sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Querida, me conta TUDO!

Se algum dia, no meio de uma conversa qualquer você ouvir a frase "Querida, me conta TUDO!", é melhor abrir os olhos e fechar a boca.

Não se conta TUDO pra ninguém. Ninguém precisa saber detalhes de sua intimidade, de seus medos, dos seus sentimentos mais profundos. Nem suas amigas, nem seu diário (alguém ainda usa isso?), nem sua mãe.

Não estou falando que você deve ser uma mistery girl cheia de segredinhos e que não troca confidências com ninguém, mas estou soando o alerta: Avalie muito bem o que revelar e para quem revelar.

Eu costumava ser um livro aberto para minhas amigas - até eu perceber que elas não o eram para mim. Teve uma vez que uma delas fez uma confidência falsa como forma de eu revelar algo verdadeiro. E eu caí e me senti super mal depois. :(

Eu costumava falar dos meus sentimentos para minha mãe. Mas no dia seguinte, meu pai usava as informações contra mim. Não era para ter chegado nele. Eu sabia que ele usaria meus medos e complexos como arma quando ele achasse apropriado.
Sabe aquela sensação de que "tudo o que você disser poderá e será usado contra você"? Era assim com meu pai. Ele soube que eu me sentia feia por ser magra demais e não ter seios ainda e no meio de uma conversa que não tinha nada a ver ele aparece com a frase "Isso é coisa de despeitada" e eu não entendi de início e ele insistiu "Isso mesmo, tuas amigas já são mocinhas e você é uma despeitada, não tem nada ainda". E eu saía chorando. Era assim que ele acabava com qualquer discussão, seja lá qual fosse o assunto, era o argumento dele para ser o último a ter a palavra.
Tudo o que eu falava pra minha mãe, ela repassava para o meu pai. Até que resolvi não falar mais. Me decidi a apenas conversar banalidades com minha mãe: programas de TV, notícias de jornal, um ou outro acontecimento, mas nada revelador, nada meu.  Era triste isso. Mas me senti mais tranquila com o silêncio.

Por falta de confiança, fiquei sem ter com quem trocar confidências. E às vezes é bom a gente ter com quem desabafar, ter para quem expor nossas dúvidas, nossos medos, nossas alegrias... Eu não tinha e até hoje penso que foi melhor assim. Melhor desabafar comigo mesma, respirar fundo e seguir em frente do que contar para alguém e aquela informação ficar me perseguindo ainda por um bom tempo. Mas eu bem que gostaria de ter tido alguém naquela época - de preferência uma mãe. Digo de preferência mãe porque amiga é amiga hoje e amanhã não se sabe, mas mãe é mãe sempre. E normalmente as mães querem o melhor para as filhas, por mais que às vezes seja difícil acreditar nisso.

Eu morria de inveja (inveja boa, viu?) de uma amiga minha que contava tudo (ou quase tudo) para a mãe dela. Elas eram confidentes, cúmplices. Ela dormia na casa do namorado, contava para a mãe e a mãe convencia o pai de que não tinha nada demais, de que era melhor ela dormir na casa do namorado do que fazer na rua (vivi em uma época em que as pessoas não carregavam câmeras nos bolsos e, sim, muitas meninas tinham sua primeira transa na rua, num matinho, na praia, etc.). Eu via a mãe dela permitir coisas que eram proibidas para a maioria das meninas da nossa idade, via a mãe dela dar conselhos que nossas mães não davam. Eu sabia que em vários momentos ela tinha chorado no colo da mãe dela - às vezes, tudo o que a gente precisa é de um colo de mãe para chorar e um cafuné de mãe para amenizar a dor...

Tudo o que eu queria era uma mãe assim: aberta ao diálogo, sem preconceitos, que sabe o que pode ser dito a outras pessoas e o que deve ficar reservado a uma conversa mãe-e-filha.

Talvez, se eu tivesse tido essa consciência antes, eu tivesse chamado minha mãe para uma conversa franca e dissesse o que eu esperava dessa relação. Talvez eu fizesse uma confidência falsa só para testar e, talvez depois, poderia me sentir à vontade para falar de tudo (ou quase tudo) com alguém. :)




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